Crise do Feudalismo e o Renascimento comercial.
As Cruzadas
As
Cruzadas forma expedições militares organizadas com o apoio da Igreja. Sua
finalidade era combater os trucos seldjúcidas que dominavam os lugares santos
do cristianismo e impediam a peregrinação de cristãos à Terra Santa.
Também
colaboraram com o movimento das Cruzadas:
- O interesse dos nobres que não possuíam terras de
fazer fortuna e instalar novos feudos fora do Ocidente;
- O desejo de lucro dos comerciantes das cidades
italianas de Veneza, Gênova e Pisa, que, impedidos pelos turcos de
comercializar encontravam nas Cruzadas uma maneira de expandir os seus
empreendimentos.
O movimento das Cruzadas
As
Cruzadas começaram a ocorrer em 1095 e se estenderam até 1270.
- Cruzada dos
Mendigos (1096): foi uma cruzada não-oficial, comandada por Pedro, o
Eremita;
- Primeira
Cruzada ou Cruzada dos Nobres (1906-1099): comandada por Godofredo de
Bulhão, Raimundo de Toulouse e Boemundo;
- Segunda
Cruzada (1147-1149): organizada porque os turcos recuperaram vários
territórios perdidos. Comandada por Luís VII (rei da França) e Conrado III
(imperador do Sacro Império Romano-Germânico);
- Terceira
Cruzada ou Cruzada dos Reis (1189-1192): na segunda metade do século
XII, agravou-se a situação dos Estados latinos no Oriente. Além disso, o
sultão Saladino retomou Jerusalém. O papa Inocêncio III passou a pregar
uma nova cruzada, da qual participaram os reis Ricardo Coração de Leão, da
Inglaterra, Felipe Augusto, da França, e Frederico Barba-Roxa, do Sacro
Império;
- Quarta
Cruzada (1217-1221): novamente o papa Inocêncio III convocou os
cristãos para outra cruzada. O governador de Veneza forneceu os navios com
o objetivo de conquistar mercados no mar Negro;
- Quinta
Cruzada (1217-1221): Jerusalém continuava nas mãos dos turcos, por
isso foi decidida a organização de uma nova cruzada à Terra Santa, a qual
fracassou;
- Sexta
Cruzada (1228-1229): chefiada por Frederico II, imperador do Sacro
Império;
- Sétima e Oitava
Cruzadas ocorreram por iniciativa do soberano francês Luís IX. Na
Sétima (1248-1250), ele seguiu para o Egito. Após alguns êxitos militares,
o exército foi dizimado por uma epidemia de tifo. Em 1270, Luís IX
organizou a Oitava Cruzada, rumando para Tunis, no norte da África. Uma
nova epidemia matou centenas de cruzados inclusive o rei.
Conseqüências das Cruzadas
O
movimento cruzadista foi responsável pelo extermínio de milhares de cristãos,
que morreram em combate, de fome ou de doença.
A
partir das Cruzadas, intensificaram-se as relações comerciais do Ocidente com o
Oriente, fazendo crescer as cidades italianas.
O
artesanato e o comércio da Europa Ocidental foram com os artigos e as matérias-primas
vindas do Oriente. Também ocorreu o incremento da circulação monetária, o que
favoreceu a abertura do Mediterrâneo. O comércio expandiu-se pelo noroeste da
Europa, pelas costas do Báltico e pelo mar do Norte.
Cada
vez mais o feudalismo se enfraquecia. A morte de muitos senhores feudais nas
cruzadas ocasionaram a alteração dos seus domínios, provocando uma gradual
liberação dos servos, que migraram para as cidades.
A Crise do feudalismo.
A partir do século
XI até o século XV, a Europa passou por profundas transformações econômicas,
políticas e sociais, que levaram à desagregação do feudalismo e ao nascimento
de um novo modo de produção, o capitalismo,
que progressivamente iria estruturar-se.
A
partir do século XI, ocorreu na Europa uma série de inovações técnicas
importantes, que permitiram grande aumento da produção.
O
antigo arado de madeira foi substituído pelo de ferro, mais pesado, que fazia
sulcos mais profundos no solo, facilitando a semeadura. O atrelamento do cavalo
no peitoral deu-lhe maior mobilidade, e muitos instrumentos agrícolas passaram
a ser feitos de ferro, ganhando maior resistência. Os moinhos movidos pela água
ou pelo vento tiveram seu movimento melhorado e sua produtividade ampliada.
Com
o desenvolvimento tecnológico, ocorreu um aumento da produção, com menor uso de
mão-de-obra. Para poder sobreviver, muitos camponeses começaram a desbravar
terras incultas do feudo, como pântanos e as florestas. Esse desbravamento foi
chamado de arroteamento.
Como
os instrumentos de trabalho agora eram de melhor qualidade, os camponeses conseguiam
produzir mais. Esse aumento da produção lhes garantia melhor alimentação,
tornando-os mais resistentes às doenças. A taxa de mortalidade caiu, provocando
acelerado aumento da população.
Renascimento do comércio
Os
senhores feudais e os servos passaram a vender a produção excedente nos
mercados locais. A população e o consumo continuavam aumentando,
intensificando-se as trocas. Com isso, muitas pessoas passaram a viver do
comércio e do artesanato. A moeda voltou a ter importância. As estradas tornaram-se
movimentadas e novos povoados formaram-se ao longo delas.
Começaram
a surgir mercados temporários – as feiras
– nos cruzamentos das rotas de comércio, às margens dos rios ou perto de
fortalezas. Essas feiras reuniam mercadores de diferentes pontos da Europa, que
se encontravam para realizar o comércio de seus produtos e operações
financeiras.
Os
senhores feudais incentivavam a realização desses mercados em suas terras,
interessados na renda que poderiam obter com os impostos que cobravam dos
mercadores. Ofereciam proteção e cobravam várias taxas. As feiras entraram em
declínio a partir do século XIII, com o crescimento das cidades.
Existiam
duas importantes rotas comerciais marítimas: a do Mediterrâneo e a do Norte da
Europa. Pelo Mediterrâneo, mercadores europeus vendiam armas, barcos e madeiras
para árabes e compravam especiarias (cravo, canela, noz-moscada, gengibre) e
produtos de luxo.
A
partir do século XI, essa rota passou a ser conquistada pelas cidades italianas
de Gênova e Veneza.
O
mar Mediterrâneo e o mar Báltico eram o eixo econômico do comércio no Norte da
Europa. O principal porto era o de Bruges, na região dos Flanders. Era aí que
se encontravam os mercadores de várias rotas terrestres e do Mediterrâneo.
Nessa região, os mercadores associaram-se para monopolizar a venda de
determinados produtos. Essas associações eram chamadas de ligas ou hansas. A
mais importante foi a Liga Hanseática, que reunia mais de 80 cidades.
O renascimento das cidades
O renascimento das
cidades coincidiu com a crise do sistema feudal. A agricultura continuou sendo
uma atividade muito importante. O campo produzia alimentos e matérias-primas; a
cidade concentrava a atividade artesanal. Entre o campo e a cidade
estabeleceram-se relações comerciais.
Muitas
cidades nasceram em áreas pertencentes aos senhores feudais e, por isso,
estavam sujeitas ao seu controle e lhes pagavam impostos. Essa situação levava
a constantes conflitos entre habitantes das cidades e os senhores feudais.
As
cidades começaram a reivindicar autonomia. Para isso, organizaram associações.
Algumas compraram a liberdade e outras conquistaram gradativamente a autonomia.
Quando conquistavam a liberdade, esse fato era registrado num documento chamado
Carta de Franquia.
As
cidades medievais eram conhecidas como burgos, e seus habitantes eram chamados
de burgueses.
Crise econômica
No
fim do século XIII, as terras de boa qualidade haviam se tornado raras e a
ocupação dos solos menos férteis teve como resultado a queda da produtividade. Além disso, muitos nobres feudais resistiam
à derrubada das florestas pra fins agrícolas (ambiente natural a caça e a fonte
de produtos como a madeira, o mel, a cera, etc.).
Em
várias regiões européias houve problemas com perdas de colheita. A perda das
colheitas ocasionou escassez de alimentos. Em conseqüência, milhares de pessoas
morreram de fome, enquanto outras sobreviveram em grave estado de subnutrição.
Peste negra
Enfraquecida
pela fome, enorme parcela da população européia tornou-se vítima de moléstias
contagiosas, como a peste negra
(1347-1350). A moléstia espalhou rapidamente ocasionando grande epidemia.
Calcula-se que um terço da população européia tenha morrido vitimado pela peste
negra.
Crise política
Em
fins do século XII, as cruzadas chegaram ao fim. Sem inimigo externo,
desencadearam-se conflitos internos, isto é, no próprio mundo cristão.
Diversas
cidades foram saqueadas e inúmeras plantações devastadas. A desorganização da
produção provocou crises de abastecimento e alta no preço dos alimentos. A insegurança
prejudicou a atividades do comércio.
Intranqüilos,
a burguesia e os camponeses revoltavam-se contra a exploração da nobreza feudal
e a incapacidade dos reis de garantir a ordem e proteger a população.
Crise religiosa
Em
1309 o papa Clemente V transferiu a sede da Igreja católica para a cidade de
Avinhão, buscando manter boas relações com o rei da França e fugir das
perturbações políticas que agitavam a Itália.
A
mudança da sede do papado provocou grave crise dentro da Igreja, entre os anos
de 1378 e 1417. Nesse período, conhecido como Grande Cisma do Oriente, a Igreja foi governada por dois papas, um
em Roma e outro em Avinhão. Somente em 1418 a Igreja recuperou sua unidade,
elegendo um novo papa, sediado em Roma, para comandar a cristandade católica.
A
crise religiosa colaborou para gerar insegurança e desorientação nos membros da
cristandade, surgindo várias doutrinas contrárias aos dogmas da Igreja
católica.
IDADE MODERNA
Grandes Navegações
Dentre os acontecimentos que assinalaram a
passagem para os tempos modernos, destacam-se, pela profundidade de suas
conseqüências, as Grandes Navegações.
Nessa época, os europeus contornaram a
África, estabeleceram novas rotas comerciais com o Oriente, circunavegaram o
mundo e chegaram às Américas. Reconhecido como o primeiro passo no complexo
processo de globalização do planeta, o expansionismo marítimo possibilitou aos
europeus o domínio de várias regiões do mundo durante um longo período.
A expansão
marítima
De forma geral, podemos dizer que os europeus
foram impelidos a empreender as Grandes Navegações por duas razões econômicas:
a necessidade de expandir o comércio
e de obter grandes quantidades de metais
preciosos.
Entretanto, nem só de causas econômicas se
faz a história. Havia também naquelas circunstâncias uma influência de outros
estímulos pessoais, espírito de aventura e fervor religioso. Na Península
Ibérica, por exemplo, disseminou-se a idéia de que, uma vez expulsos os
muçulmanos do território, seria preciso propagar a fé cristã por todas as
regiões do mundo.
Reunidos esses anseios, o Estado moderno,
com sua monarquia fortalecida e unificada, surgiu como instrumento
capaz de concretizá-los. Graças ao apoio da burguesia, aos impostos cobrados da
população e aos empréstimos contraídos junto aos banqueiros, o rei pôde reunir
o capital necessário para financiar as viagens marítimas.
O Atlântico
como solução
Já vimos que o comércio, tendo ressurgido
na Europa a partir do século XI, vinha crescendo rapidamente, estimulado em
grande parte pela abertura do Mediterrâneo e pelo restabelecimento dos contatos
com o Oriente, após as Cruzadas. Esse crescimento, que havia sido interrompido
em virtude da crise do século XIV, foi retomado em seguida, ainda com mais
vigor.
No início do século XV, era intenso o comércio
de produtos orientais: as chamadas especiarias – cravo, canela, pimenta, seda
e outros artigos. Esses produtos eram trazidos do Oriente pelos árabes até os
portos do Mediterrâneo, onde eram comprados, principalmente, pelos mercadores
da península Itálica, que os revendiam na Europa. Esse quase monopólio
encarecia muito os artigos orientais. Impedidos de efetuar negócios mais
lucrativos, os comerciantes de outras regiões começaram a procurar no Atlântico
a saída para esse entrave.
Especiarias
As especiarias eram vegetais tropicais
inexistentes na Europa, como pimenta, cravo, gengibre, noz-moscada, cominho,
açafrão, canela, ruibarbo, sândalo e aloés. Eram utilizadas de muitos modos
pelos europeus: na farmacopéia, serviam para a composição de remédios; na
culinária, eram usadas no tempero dos alimentos, tornando-os mais saborosos e
digestivos, e ajudando na sua conservação, principalmente na das carnes, que
estragavam com facilidade; na fabricação de corantes, algumas especiarias
(aloés, açafrão) eram usadas na composição de tintas e no tingimento de
tecidos. Eram usadas também na preparação de perfumes ou de cosméticos.
A queda de Constantinopla
Por muito tempo, um grande número de
historiadores considerou decisiva para a expansão marítima a tomada de
Constantinopla pelos turcos, em 1453. Com a queda da cidade, acreditava-se que
o comércio entre o Ocidente e o Oriente teria sido interrompido na região do
Mediterrâneo.
Entretanto, é importante ressaltar que
esse acontecimento, embora tenha dificultado o comércio das especiarias, não o
impediu. Ele passou a ser monopolizado ainda mais pelas cidades da Península
Itálica. Além disso, quando os turcos tomaram Constantinopla, os portugueses já
haviam dado início às suas viagens marítimas e à exploração da costa africana.
O mercantilismo e a procura de
metais preciosos
Outro fator que levou os europeus a
realizar as navegações foi a busca de metais preciosos. De fato, a expansão do
comércio acarretava uma necessidade crescente desses metais para a cunhagem de moedas.
Ora, boa parte do ouro e da prata existentes na Europa era destinada ao
pagamento de mercadorias no comércio com o Oriente. Por isso, os dois metais se
tornaram escassos no continente, forçando a procura por novas fontes fora da
Europa.
Progressos técnicos e
científicos
Contribuíram também para as conquistas
marítimas os avanços efetuados na técnica de navegação em alto-mar e o
aprofundamento dos conhecimentos científicos alcançado pelos europeus no século
XV.
Entre os progressos técnicos estavam instrumentos
como a bússola e o astrolábio, além, é claro, da caravela. Muitos desses
equipamentos já eram utilizados por outros povos e foram aperfeiçoados e
adaptados pelos portugueses à navegação marítima.
Duas outras novidades estavam no campo
bélico e foram decisivas para o domínio europeu sobre outros povos: a pólvora e
o canhão, trazidos do Oriente. De posse da bússola, do astrolábio e da
caravela, os europeus puderam ir muito longe com suas expedições marítimas. Os
canhões e a pólvora, por sua vez, possibilitaram a conquista de terras de
outros continentes.
Portugal e o
desafio do Atlântico
A que se deveu o papel
pioneiro desempenhado por Portugal no processo das Grandes Navegações? Por que
foi possível a esse país tão pequeno lançar-se ao Atlântico e construir um
império transoceânico muito antes que o fizessem reinos maiores e mais
poderosos?
Até meados do século XV, a
principal rota comercial do mundo europeu era a que ligava por terra as cidades
da costa do Mediterrâneo às do norte da Europa. Com a Guerra dos Cem Anos
(1337 – 1453), essa via entrou em
decadência. O comércio passou a ser realizado por uma rota marítima que partia
do mar Báltico e do mar do Norte e chegava ao Mediterrâneo. Essa
troca de rotas foi possível graças aos progressos obtidos na arte de navegar e
nas técnicas de construção naval.
Com a mudança, as regiões
centrais do continente europeu acabaram perdendo importância comercial. As
regiões costeiras ao Atlântico, ao contrário, foram beneficiadas, tornando-se
passagem obrigatória dos mercadores que transitavam
entre o norte e o sul do continente em busca de negócios lucrativos.
Assim, a nova rota marítima
deu a Portugal, no século XIV, a
oportunidade de integrar-se às atividades mercantis efetuadas entre as regiões
mais prósperas do continente europeu. As conseqüências imediatas para os
portugueses foram o crescimento de cidades portuárias, como Lisboa e Porto, e a realização de
contatos comerciais regulares com as cidades da Península Itálica
e com a França, a Inglaterra, Flandres e as cidades do Sacro Império
Romano-Germânico.
Mas efetuar as navegações
costeiras entre o norte da Europa e o Mediterrâneo constituía um empreendimento
inteiramente diferente de enfrentar o oceano Atlântico para além dos limites da
costa. Na época o Atlântico era chamado de "Mar Tenebroso", pois
acreditava-se, entre outras coisas, que fosse formado por águas ferventes e
precipícios. Povoado por monstros, era o limite do
mundo conhecido, de onde nenhum marinheiro retornava.
A atividade pesqueira, prática
largamente difundida no litoral português, sem dúvida contribuiu para que os
portugueses se familiarizassem com o oceano Atlântico e aprendessem a enfrentar
o mar aberto.
Além disso, as cidades
portuárias de Portugal funcionavam como uma espécie de entrepostos para o
abastecimento das embarcações que
utilizavam a rota marítima do Atlântico. Como conseqüência, Portugal acabou se
transformando em um importante centro onde circulavam as idéias mais avançadas
a respeito de navegação.
Nessa época, o Infante D. Henrique,
o navegador – filho do rei dom João I –,
reuniu muitos cartógrafos, navegadores e astrônomos para desenvolver em Sagres
estudos e experiências náuticas. Mais tarde, o conjunto de idéias ali gerado
foi denominado Escola de Sagres.
Navegar
é preciso
Diversos setores da sociedade
portuguesa estavam interessados nos benefícios propiciados pelas navegações. Os
motivos eram os mais variados e compreendiam, entre outros, aspectos políticos,
econômicos e religiosos.
A monarquia portuguesa desejava fortalecer seu
poder e construir um império. Para isso, fazia-se
necessário conquistar novas terras e controlar uma vasta rede comercial. Os
motivos da nobreza não eram muito diferentes. Os nobres
vislumbravam na expansão territorial uma oportunidade para conquistar terras,
riqueza, títulos e, claro, mais prestígio. A Igreja, por sua vez, estava interessada em expandir a fé
católica e aumentar o número de fiéis.
Para a burguesia, os motivos
eram bastante evidentes: a expansão territorial e o contato com outros povos só
fariam aumentar as atividades comerciais e os lucros. Finalmente, para o
chamado “povo miúdo” as navegações abriam possibilidades de trabalho, de
ascensão social, de aventuras e de enriquecimento rápido.
Pela costa africana
A expansão portuguesa começou
em 1415, com a tomada de Ceuta,
importante centro comercial dominado pelos muçulmanos no norte da África.
Em seguida, Portugal ocupou as ilhas
de Madeira, Açores e Cabo Verde, no oceano Atlântico. Aí, a colônia portuguesa realizou uma
experiência de colonização, implantando o cultivo de cana-de-açúcar. Essa
experiência serviria mais tarde de modelo para a ocupação das terras
americanas.
A expansão estendeu-se ao
longo do litoral africano, onde os portugueses obtinham produtos como pimenta, ouro
e marfim. Em 1434,
Gil Eanes venceu o desafio da ultrapassagem do cabo Bojador, onde vários navegadores já haviam
naufragado. Nessa mesma época, deram início ao tráfico de escravos africanos,
levando-os para as colônias nas ilhas no Atlântico ou comercializando-os na
Europa.
Somente várias décadas mais
tarde, entre 1487 e 1488,
Bartolomeu Dias alcançou o cabo das Tormentas,
no extremo sul da África, rebatizado pelo rei de Portugal de cabo da Boa Esperança.
Este último feito abriria
caminho para a realização de um projeto mais ambicioso, que havia se esboçado
após a conquista do cabo Bojador: chegar às Índias contornando a África.
Em 1497,
dez anos após a viagem de Bartolomeu Dias, o rei dom Manuel o Venturoso
(1495 – 1521), entregou a Vasco da Gama o comando de uma expedição que
deveria estabelecer relações comercias com as Índias. Dez meses depois da
partida, em maio de 1498, Vasco da Gama chegava a Calecute, próspera cidade do litoral indiano.
Seu retorno a Lisboa ocorreu em setembro de 1499.
De sua expedição, restaram apenas dois navios
e 55 homens e a certeza de poder estabelecer uma rota comercial entre a Europa
e o Oriente contornando o litoral da África.
Vera Cruz
Animado com as possibilidades de
lucros que a rota recém-aberta oferecia, dom Manuel
organizou uma nova expedição. Seu objetivo principal era impor o domínio
português sobre o comércio dos produtos orientais.
Comandada por Pedro Álvares Cabral,
a frota partiu em março de 1500. Mas não tomou diretamente
o rumo para as Índias. Provavelmente, tinha um outro objetivo não declarado:
tomar posse de uma enorme porção de terras no Atlântico sul.
Assim, abandonou o litoral africano em direção ao mar
aberto e, em 22 de abril, chegou às
terras que denominou ilha de Vera Cruz e que, mais tarde, passariam a se chamar
Brasil.
Depois de formalizar a posse
das terras em nome de Portugal, Cabral enviou a Lisboa um navio com
informações sobre a conquista e prosseguiu viagem em direção ao Oriente.
Os europeus ainda não sabiam,
mas a porção de terras encontrada fazia parte de um enorme continente, que
seria batizado com o nome de América e que desde 1492
era explorado na parte norte, pelos espanhóis.
Controvérsias
A chegada de Pedro Álvares Cabral
à América teria sido intencional ou ocasional? Esse debate ocupou por várias
décadas os historiadores. Hoje,
muitos acreditam já não haver motivos para insistir nessa velha discussão. Há
muito se sabe que alguns navegantes estiveram no litoral brasileiro pouco antes
de Cabral. Sabe-se também que este não chegou ao Brasil por acaso. Essa
convicção encontra apoio em várias fontes. Bastante citado, por exemplo, é o livro
Esmeraldo de Situ Orbis, escrito entre 1505
e 1508, por Duarte Pacheco Pereira,
membro da expedição de Cabral, que a certa altura menciona: "[...]temos
sabido e visto como no ano de Nosso Senhor de 1498, vossa Alteza nos mandou
descobrir a parte ocidental da grandeza do mar Oceano, onde é achada e navegada
grande terra firme e com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela".
Reais motivos da vinda de Cabral
Muitos acreditam que seriam
dois os reais motivos da vinda de Cabral em direção ao Novo Mundo;
1º) Estabelecer o domíno de Portugal na
porção do novo mundo já assegurada em tordesilhas e fixar aqui bases de apoio
para facilitar as viagens as Índias;
2º) Consolidar as relações comercias no
Novo Mundo já começadas por Vasco da Gama.
Portugal
comanda o comércio
Com a descoberta do caminho
marítimo para as Índias, intensificou-se o comércio de especiarias. o aumento da oferta desses produtos
levou à queda dos preços no mercado. À medida que mais pessoas podiam
comprá-los, ampliavam-se as atividades comerciais na Europa.
A partir desse momento, a rota
do Mediterrâneo entraria em decadência, provocando o enfraquecimento das
cidades mercantes da Península Itálica.
Portugal alçou-se ao primeiro
plano entre os Estados mais poderosos da Europa. Essa condição,
todavia, duraria pouco tempo, pois logo a rota das Índias começou a ser
disputada por outras potências européias. Portugal voltou-se então para a
exploração das terras americanas.
Colombo
chega à América
Embora os espanhóis já
tivessem, no início do século XV, tomado posse
das ilhas Canárias, no
oceano Atlântico, a noroeste da África, sua expansão marítima e
comercial só começou efetivamente em 1492, após a expulsão
definitiva dos muçulmanos da Península Ibérica.
Ainda em 1492, uma expedição
comandada por Cristóvão Colombo
tomou posse, em nome dos reis espanhóis, de terras localizadas na região
central da América.
Colombo tinha a intenção de atingir o
Oriente navegando em direção ao Ocidente. Ao contrário do senso comum, defendia
a idéia de que a terra era redonda, e não plana como a maior parte da população
acreditava ser.
Navegando conforme seus
planos, Colombo encontrou a atual Ilha de São Domingos,
na América Central.
Imaginou ter chegado às Índias. Por essa razão, chamou de índios os habitantes
do lugar.
O feito de Colombo criou um
problema para Portugal. Supõe-se que os portugueses já desconfiavam da
existência de território a sudoeste do oceano
Atlântico.
Para tentar solucionar a disputa entre
os dois reinos ibéricos, foi feita uma série de acordos. Contudo, somente em 1494
celebrou-se um acordo definitivo: o Tratado de Tordesilhas.
Nele ficava estabelecida uma divisão de territórios entre portugueses e
espanhóis.
O Tratado de Tordesilhas
Para estabelecer os domínios
no Atlântico foi necessária uma longa batalha diplomática entre Espanha e Portugal.
Pouco depois da volta de Cristóvão Colombo,
o papa expediu, em maio de 1493, a Bula Inter Coetera,
que reconhecida ao reino de Castela
o domínio sobre todas as terras que se encontrassem a oeste
de um meridiano localizado a 100 léguas a oeste das ilhas de Açores e Cabo Verde.
Portugal, sentindo-se
prejudicado, não aceitou a bula papal e exigiu uma negociação direta. O
resultado foi o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494,
em que os reinos ibéricos estabeleceram uma divisão do mundo.
Segundo o tratado, terras e
mares encontrados ou por encontras (desde que não pertencentes a nenhum rei
cristão) seriam divididos entre Espanha e Portugal. O meridiano que passa a 370
léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde foi tomado como linha divisória. As
terras localizadas a leste pertenciam a Portugal. As restantes seriam da
Espanha.
Para os portugueses, o tratado
era altamente positivo, pois lhes assegurava a posse do litoral atlântico da
África, região que já vinham explorando. A Espanha acabaria impondo seu domínio
a grande parte do continente americano e sobre os povos que o habitavam. Com os
metais preciosos encontrados no novo continente,
tornar-se-ia a nação mais rica da Europa. Por isso na história espanhola o século XVI ficou conhecido como "o século
de ouro".
Inglaterra,
França e Holanda
Descontentes com a divisão do
mundo entre Espanha e Portugal pelo Tratado de Tordesilhas,
Inglaterra, França e Holanda desconheceram o acordo e procuraram
atuar por diversos meios contra as colônias e os navios ibéricos. Um desses meios
era a pirataria.
Mais tarde, iniciaram a
conquista de áreas não colonizadas pelos espanhóis na América do Norte
e nas Antilhas, e foram aos poucos tomando pela força
terras já ocupadas pelos dois reinos ibéricos,
além de diversas tentativas de retirar o Brasil do controle dos portugueses.
Navegações e
mercado mundial
As Grandes Navegações deram ao
comércio europeu um impulso extraordinário. Para se ter uma idéia desse
crescimento, basta lembrar que, em sua viagem às Índias, Vasco da Gama trouxe
de lá especiarias que renderam a Portugal um lucro de 6000%.
Além de colocar no mercado europeu
quantidades inusitadas de mercadorias, o novo comércio estabeleceu um
intercâmbio sem precedentes entre os diversos continentes. O mundo todo
começava a ser unificado pelo comércio.
Essas mudanças operaram uma
verdadeira revolução nas relações internacionais, nos hábitos de consumo, nas mentalidades,
na organização das sociedades européias e
não-européias. Além disso, consolidaram o poder absolutista dos reis e fizeram
da burguesia o grande agente das transformações sociais. Esse processo ficaria
conhecido mais tarde como Revolução Comercial.
REFERENCIAS
DIVALTE, Garcia Figueiredo. História. São
Paulo: Ática, 2006.
AMADO, Janaína. FIGUEIREDO, Luiz C. A formação do império
português. São Paulo: Atual, 1999.
COUTO, Jorge. A construção do Brasil. Lisboa,
Cosmos: 1998.
COTRIM, Gilberto. História: Brasil e Geral. São Paulo: Saraiva, 2002.
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