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CRISE DO FEUDALISMO E O RENASCIMENTO COMERCIAL

Crise do Feudalismo e o Renascimento comercial.


As Cruzadas
            As Cruzadas forma expedições militares organizadas com o apoio da Igreja. Sua finalidade era combater os trucos seldjúcidas que dominavam os lugares santos do cristianismo e impediam a peregrinação de cristãos à Terra Santa.
            Também colaboraram com o movimento das Cruzadas:
  • O interesse dos nobres que não possuíam terras de fazer fortuna e instalar novos feudos fora do Ocidente;
  • O desejo de lucro dos comerciantes das cidades italianas de Veneza, Gênova e Pisa, que, impedidos pelos turcos de comercializar encontravam nas Cruzadas uma maneira de expandir os seus empreendimentos.
O movimento das Cruzadas


            As Cruzadas começaram a ocorrer em 1095 e se estenderam até 1270.
  • Cruzada dos Mendigos (1096): foi uma cruzada não-oficial, comandada por Pedro, o Eremita;
  • Primeira Cruzada ou Cruzada dos Nobres (1906-1099): comandada por Godofredo de Bulhão, Raimundo de Toulouse e Boemundo;
  • Segunda Cruzada (1147-1149): organizada porque os turcos recuperaram vários territórios perdidos. Comandada por Luís VII (rei da França) e Conrado III (imperador do Sacro Império Romano-Germânico);
  • Terceira Cruzada ou Cruzada dos Reis (1189-1192): na segunda metade do século XII, agravou-se a situação dos Estados latinos no Oriente. Além disso, o sultão Saladino retomou Jerusalém. O papa Inocêncio III passou a pregar uma nova cruzada, da qual participaram os reis Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, Felipe Augusto, da França, e Frederico Barba-Roxa, do Sacro Império;
  • Quarta Cruzada (1217-1221): novamente o papa Inocêncio III convocou os cristãos para outra cruzada. O governador de Veneza forneceu os navios com o objetivo de conquistar mercados no mar Negro;
  • Quinta Cruzada (1217-1221): Jerusalém continuava nas mãos dos turcos, por isso foi decidida a organização de uma nova cruzada à Terra Santa, a qual fracassou;
  • Sexta Cruzada (1228-1229): chefiada por Frederico II, imperador do Sacro Império;
  • Sétima e Oitava Cruzadas ocorreram por iniciativa do soberano francês Luís IX. Na Sétima (1248-1250), ele seguiu para o Egito. Após alguns êxitos militares, o exército foi dizimado por uma epidemia de tifo. Em 1270, Luís IX organizou a Oitava Cruzada, rumando para Tunis, no norte da África. Uma nova epidemia matou centenas de cruzados inclusive o rei.
Conseqüências das Cruzadas


            O movimento cruzadista foi responsável pelo extermínio de milhares de cristãos, que morreram em combate, de fome ou de doença.
            A partir das Cruzadas, intensificaram-se as relações comerciais do Ocidente com o Oriente, fazendo crescer as cidades italianas.
            O artesanato e o comércio da Europa Ocidental foram         com os artigos e as matérias-primas vindas do Oriente. Também ocorreu o incremento da circulação monetária, o que favoreceu a abertura do Mediterrâneo. O comércio expandiu-se pelo noroeste da Europa, pelas costas do Báltico e pelo mar do Norte.
            Cada vez mais o feudalismo se enfraquecia. A morte de muitos senhores feudais nas cruzadas ocasionaram a alteração dos seus domínios, provocando uma gradual liberação dos servos, que migraram para as cidades.

A Crise do feudalismo.


            A partir do século XI até o século XV, a Europa passou por profundas transformações econômicas, políticas e sociais, que levaram à desagregação do feudalismo e ao nascimento de um novo modo de produção, o capitalismo, que progressivamente iria estruturar-se.
            A partir do século XI, ocorreu na Europa uma série de inovações técnicas importantes, que permitiram grande aumento da produção.
            O antigo arado de madeira foi substituído pelo de ferro, mais pesado, que fazia sulcos mais profundos no solo, facilitando a semeadura. O atrelamento do cavalo no peitoral deu-lhe maior mobilidade, e muitos instrumentos agrícolas passaram a ser feitos de ferro, ganhando maior resistência. Os moinhos movidos pela água ou pelo vento tiveram seu movimento melhorado e sua produtividade ampliada.
            Com o desenvolvimento tecnológico, ocorreu um aumento da produção, com menor uso de mão-de-obra. Para poder sobreviver, muitos camponeses começaram a desbravar terras incultas do feudo, como pântanos e as florestas. Esse desbravamento foi chamado de arroteamento.
            Como os instrumentos de trabalho agora eram de melhor qualidade, os camponeses conseguiam produzir mais. Esse aumento da produção lhes garantia melhor alimentação, tornando-os mais resistentes às doenças. A taxa de mortalidade caiu, provocando acelerado aumento da população.

Renascimento do comércio


            Os senhores feudais e os servos passaram a vender a produção excedente nos mercados locais. A população e o consumo continuavam aumentando, intensificando-se as trocas. Com isso, muitas pessoas passaram a viver do comércio e do artesanato. A moeda voltou a ter importância. As estradas tornaram-se movimentadas e novos povoados formaram-se ao longo delas.
            Começaram a surgir mercados temporários – as feiras – nos cruzamentos das rotas de comércio, às margens dos rios ou perto de fortalezas. Essas feiras reuniam mercadores de diferentes pontos da Europa, que se encontravam para realizar o comércio de seus produtos e operações financeiras.
            Os senhores feudais incentivavam a realização desses mercados em suas terras, interessados na renda que poderiam obter com os impostos que cobravam dos mercadores. Ofereciam proteção e cobravam várias taxas. As feiras entraram em declínio a partir do século XIII, com o crescimento das cidades.
            Existiam duas importantes rotas comerciais marítimas: a do Mediterrâneo e a do Norte da Europa. Pelo Mediterrâneo, mercadores europeus vendiam armas, barcos e madeiras para árabes e compravam especiarias (cravo, canela, noz-moscada, gengibre) e produtos de luxo.
            A partir do século XI, essa rota passou a ser conquistada pelas cidades italianas de Gênova e Veneza.
            O mar Mediterrâneo e o mar Báltico eram o eixo econômico do comércio no Norte da Europa. O principal porto era o de Bruges, na região dos Flanders. Era aí que se encontravam os mercadores de várias rotas terrestres e do Mediterrâneo. Nessa região, os mercadores associaram-se para monopolizar a venda de determinados produtos. Essas associações eram chamadas de ligas ou hansas. A mais importante foi a Liga Hanseática, que reunia mais de 80 cidades.

O renascimento das cidades


            O renascimento das cidades coincidiu com a crise do sistema feudal. A agricultura continuou sendo uma atividade muito importante. O campo produzia alimentos e matérias-primas; a cidade concentrava a atividade artesanal. Entre o campo e a cidade estabeleceram-se relações comerciais.
            Muitas cidades nasceram em áreas pertencentes aos senhores feudais e, por isso, estavam sujeitas ao seu controle e lhes pagavam impostos. Essa situação levava a constantes conflitos entre habitantes das cidades e os senhores feudais.
            As cidades começaram a reivindicar autonomia. Para isso, organizaram associações. Algumas compraram a liberdade e outras conquistaram gradativamente a autonomia. Quando conquistavam a liberdade, esse fato era registrado num documento chamado Carta de Franquia.
            As cidades medievais eram conhecidas como burgos, e seus habitantes eram chamados de burgueses.

Crise econômica


            No fim do século XIII, as terras de boa qualidade haviam se tornado raras e a ocupação dos solos menos férteis teve como resultado a queda da produtividade. Além disso, muitos nobres feudais resistiam à derrubada das florestas pra fins agrícolas (ambiente natural a caça e a fonte de produtos como a madeira, o mel, a cera, etc.).
            Em várias regiões européias houve problemas com perdas de colheita. A perda das colheitas ocasionou escassez de alimentos. Em conseqüência, milhares de pessoas morreram de fome, enquanto outras sobreviveram em grave estado de subnutrição.

Peste negra


            Enfraquecida pela fome, enorme parcela da população européia tornou-se vítima de moléstias contagiosas, como a peste negra (1347-1350). A moléstia espalhou rapidamente ocasionando grande epidemia. Calcula-se que um terço da população européia tenha morrido vitimado pela peste negra.

Crise política


            Em fins do século XII, as cruzadas chegaram ao fim. Sem inimigo externo, desencadearam-se conflitos internos, isto é, no próprio mundo cristão.
            Diversas cidades foram saqueadas e inúmeras plantações devastadas. A desorganização da produção provocou crises de abastecimento e alta no preço dos alimentos. A insegurança prejudicou a atividades do comércio.
            Intranqüilos, a burguesia e os camponeses revoltavam-se contra a exploração da nobreza feudal e a incapacidade dos reis de garantir a ordem e proteger a população.

Crise religiosa


            Em 1309 o papa Clemente V transferiu a sede da Igreja católica para a cidade de Avinhão, buscando manter boas relações com o rei da França e fugir das perturbações políticas que agitavam a Itália.
            A mudança da sede do papado provocou grave crise dentro da Igreja, entre os anos de 1378 e 1417. Nesse período, conhecido como Grande Cisma do Oriente, a Igreja foi governada por dois papas, um em Roma e outro em Avinhão. Somente em 1418 a Igreja recuperou sua unidade, elegendo um novo papa, sediado em Roma, para comandar a cristandade católica.
            A crise religiosa colaborou para gerar insegurança e desorientação nos membros da cristandade, surgindo várias doutrinas contrárias aos dogmas da Igreja católica.



IDADE MODERNA

Grandes Navegações


Dentre os acontecimentos que assinalaram a passagem para os tempos modernos, destacam-se, pela profundidade de suas conseqüências, as Grandes Navegações.
Nessa época, os europeus contornaram a África, estabeleceram novas rotas comerciais com o Oriente, circunavegaram o mundo e chegaram às Américas. Reconhecido como o primeiro passo no complexo processo de globalização do planeta, o expansionismo marítimo possibilitou aos europeus o domínio de várias regiões do mundo durante um longo período.

A expansão marítima


De forma geral, podemos dizer que os europeus foram impelidos a empreender as Grandes Navegações por duas razões econômicas: a necessidade de expandir o comércio e de obter grandes quantidades de metais preciosos.
Entretanto, nem só de causas econômicas se faz a história. Havia também naquelas circunstâncias uma influência de outros estímulos pessoais, espírito de aventura e fervor religioso. Na Península Ibérica, por exemplo, disseminou-se a idéia de que, uma vez expulsos os muçulmanos do território, seria preciso propagar a fé cristã por todas as regiões do mundo.
Reunidos esses anseios, o Estado moderno, com sua monarquia fortalecida e unificada, surgiu como instrumento capaz de concretizá-los. Graças ao apoio da burguesia, aos impostos cobrados da população e aos empréstimos contraídos junto aos banqueiros, o rei pôde reunir o capital necessário para financiar as viagens marítimas.

 

O Atlântico como solução


Já vimos que o comércio, tendo ressurgido na Europa a partir do século XI, vinha crescendo rapidamente, estimulado em grande parte pela abertura do Mediterrâneo e pelo restabelecimento dos contatos com o Oriente, após as Cruzadas. Esse crescimento, que havia sido interrompido em virtude da crise do século XIV, foi retomado em seguida, ainda com mais vigor.
No início do século XV, era intenso o comércio de produtos orientais: as chamadas especiarias – cravo, canela, pimenta, seda e outros artigos. Esses produtos eram trazidos do Oriente pelos árabes até os portos do Mediterrâneo, onde eram comprados, principalmente, pelos mercadores da península Itálica, que os revendiam na Europa. Esse quase monopólio encarecia muito os artigos orientais. Impedidos de efetuar negócios mais lucrativos, os comerciantes de outras regiões começaram a procurar no Atlântico a saída para esse entrave.

 

Especiarias


As especiarias eram vegetais tropicais inexistentes na Europa, como pimenta, cravo, gengibre, noz-moscada, cominho, açafrão, canela, ruibarbo, sândalo e aloés. Eram utilizadas de muitos modos pelos europeus: na farmacopéia, serviam para a composição de remédios; na culinária, eram usadas no tempero dos alimentos, tornando-os mais saborosos e digestivos, e ajudando na sua conservação, principalmente na das carnes, que estragavam com facilidade; na fabricação de corantes, algumas especiarias (aloés, açafrão) eram usadas na composição de tintas e no tingimento de tecidos. Eram usadas também na preparação de perfumes ou de cosméticos.

A queda de Constantinopla


Por muito tempo, um grande número de historiadores considerou decisiva para a expansão marítima a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453. Com a queda da cidade, acreditava-se que o comércio entre o Ocidente e o Oriente teria sido interrompido na região do Mediterrâneo.
Entretanto, é importante ressaltar que esse acontecimento, embora tenha dificultado o comércio das especiarias, não o impediu. Ele passou a ser monopolizado ainda mais pelas cidades da Península Itálica. Além disso, quando os turcos tomaram Constantinopla, os portugueses já haviam dado início às suas viagens marítimas e à exploração da costa africana.

O mercantilismo e a procura de metais preciosos


Outro fator que levou os europeus a realizar as navegações foi a busca de metais preciosos. De fato, a expansão do comércio acarretava uma necessidade crescente desses metais para a cunhagem de moedas. Ora, boa parte do ouro e da prata existentes na Europa era destinada ao pagamento de mercadorias no comércio com o Oriente. Por isso, os dois metais se tornaram escassos no continente, forçando a procura por novas fontes fora da Europa.

Progressos técnicos e científicos


Contribuíram também para as conquistas marítimas os avanços efetuados na técnica de navegação em alto-mar e o aprofundamento dos conhecimentos científicos alcançado pelos europeus no século XV.
Entre os progressos técnicos estavam instrumentos como a bússola e o astrolábio, além, é claro, da caravela. Muitos desses equipamentos já eram utilizados por outros povos e foram aperfeiçoados e adaptados pelos portugueses à navegação marítima.
Duas outras novidades estavam no campo bélico e foram decisivas para o domínio europeu sobre outros povos: a pólvora e o canhão, trazidos do Oriente. De posse da bússola, do astrolábio e da caravela, os europeus puderam ir muito longe com suas expedições marítimas. Os canhões e a pólvora, por sua vez, possibilitaram a conquista de terras de outros continentes.

Portugal e o desafio do Atlântico


A que se deveu o papel pioneiro desempenhado por Portugal no processo das Grandes Navegações? Por que foi possível a esse país tão pequeno lançar-se ao Atlântico e construir um império transoceânico muito antes que o fizessem reinos maiores e mais poderosos?
Até meados do século XV, a principal rota comercial do mundo europeu era a que ligava por terra as cidades da costa do Mediterrâneo às do norte da Europa. Com a Guerra dos Cem Anos (13371453), essa via entrou em decadência. O comércio passou a ser realizado por uma rota marítima que partia do mar Báltico e do mar do Norte e chegava ao Mediterrâneo. Essa troca de rotas foi possível graças aos progressos obtidos na arte de navegar e nas técnicas de construção naval.
Com a mudança, as regiões centrais do continente europeu acabaram perdendo importância comercial. As regiões costeiras ao Atlântico, ao contrário, foram beneficiadas, tornando-se passagem obrigatória dos mercadores que transitavam entre o norte e o sul do continente em busca de negócios lucrativos.
Assim, a nova rota marítima deu a Portugal, no século XIV, a oportunidade de integrar-se às atividades mercantis efetuadas entre as regiões mais prósperas do continente europeu. As conseqüências imediatas para os portugueses foram o crescimento de cidades portuárias, como Lisboa e Porto, e a realização de contatos comerciais regulares com as cidades da Península Itálica e com a França, a Inglaterra, Flandres e as cidades do Sacro Império Romano-Germânico.
Mas efetuar as navegações costeiras entre o norte da Europa e o Mediterrâneo constituía um empreendimento inteiramente diferente de enfrentar o oceano Atlântico para além dos limites da costa. Na época o Atlântico era chamado de "Mar Tenebroso", pois acreditava-se, entre outras coisas, que fosse formado por águas ferventes e precipícios. Povoado por monstros, era o limite do mundo conhecido, de onde nenhum marinheiro retornava.
A atividade pesqueira, prática largamente difundida no litoral português, sem dúvida contribuiu para que os portugueses se familiarizassem com o oceano Atlântico e aprendessem a enfrentar o mar aberto.
Além disso, as cidades portuárias de Portugal funcionavam como uma espécie de entrepostos para o abastecimento das embarcações que utilizavam a rota marítima do Atlântico. Como conseqüência, Portugal acabou se transformando em um importante centro onde circulavam as idéias mais avançadas a respeito de navegação.
Nessa época, o Infante D. Henrique, o navegador – filho do rei dom João I –, reuniu muitos cartógrafos, navegadores e astrônomos para desenvolver em Sagres estudos e experiências náuticas. Mais tarde, o conjunto de idéias ali gerado foi denominado Escola de Sagres.

 

Navegar é preciso


Diversos setores da sociedade portuguesa estavam interessados nos benefícios propiciados pelas navegações. Os motivos eram os mais variados e compreendiam, entre outros, aspectos políticos, econômicos e religiosos.
A monarquia portuguesa desejava fortalecer seu poder e construir um império. Para isso, fazia-se necessário conquistar novas terras e controlar uma vasta rede comercial. Os motivos da nobreza não eram muito diferentes. Os nobres vislumbravam na expansão territorial uma oportunidade para conquistar terras, riqueza, títulos e, claro, mais prestígio. A Igreja, por sua vez, estava interessada em expandir a fé católica e aumentar o número de fiéis.
Para a burguesia, os motivos eram bastante evidentes: a expansão territorial e o contato com outros povos só fariam aumentar as atividades comerciais e os lucros. Finalmente, para o chamado “povo miúdo” as navegações abriam possibilidades de trabalho, de ascensão social, de aventuras e de enriquecimento rápido.

Pela costa africana

A expansão portuguesa começou em 1415, com a tomada de Ceuta, importante centro comercial dominado pelos muçulmanos no norte da África.
Em seguida, Portugal ocupou as ilhas de Madeira, Açores e Cabo Verde, no oceano Atlântico. Aí, a colônia portuguesa realizou uma experiência de colonização, implantando o cultivo de cana-de-açúcar. Essa experiência serviria mais tarde de modelo para a ocupação das terras americanas.
A expansão estendeu-se ao longo do litoral africano, onde os portugueses obtinham produtos como pimenta, ouro e marfim. Em 1434, Gil Eanes venceu o desafio da ultrapassagem do cabo Bojador, onde vários navegadores já haviam naufragado. Nessa mesma época, deram início ao tráfico de escravos africanos, levando-os para as colônias nas ilhas no Atlântico ou comercializando-os na Europa.
Somente várias décadas mais tarde, entre 1487 e 1488, Bartolomeu Dias alcançou o cabo das Tormentas, no extremo sul da África, rebatizado pelo rei de Portugal de cabo da Boa Esperança.
Este último feito abriria caminho para a realização de um projeto mais ambicioso, que havia se esboçado após a conquista do cabo Bojador: chegar às Índias contornando a África.
Em 1497, dez anos após a viagem de Bartolomeu Dias, o rei dom Manuel o Venturoso (14951521), entregou a Vasco da Gama o comando de uma expedição que deveria estabelecer relações comercias com as Índias. Dez meses depois da partida, em maio de 1498, Vasco da Gama chegava a Calecute, próspera cidade do litoral indiano. Seu retorno a Lisboa ocorreu em setembro de 1499. De sua expedição, restaram apenas dois navios e 55 homens e a certeza de poder estabelecer uma rota comercial entre a Europa e o Oriente contornando o litoral da África.

Vera Cruz

Animado com as possibilidades de lucros que a rota recém-aberta oferecia, dom Manuel organizou uma nova expedição. Seu objetivo principal era impor o domínio português sobre o comércio dos produtos orientais.
Comandada por Pedro Álvares Cabral, a frota partiu em março de 1500. Mas não tomou diretamente o rumo para as Índias. Provavelmente, tinha um outro objetivo não declarado: tomar posse de uma enorme porção de terras no Atlântico sul. Assim, abandonou o litoral africano em direção ao mar aberto e, em 22 de abril, chegou às terras que denominou ilha de Vera Cruz e que, mais tarde, passariam a se chamar Brasil.
Depois de formalizar a posse das terras em nome de Portugal, Cabral enviou a Lisboa um navio com informações sobre a conquista e prosseguiu viagem em direção ao Oriente.
Os europeus ainda não sabiam, mas a porção de terras encontrada fazia parte de um enorme continente, que seria batizado com o nome de América e que desde 1492 era explorado na parte norte, pelos espanhóis.

 

Controvérsias


A chegada de Pedro Álvares Cabral à América teria sido intencional ou ocasional? Esse debate ocupou por várias décadas os historiadores. Hoje, muitos acreditam já não haver motivos para insistir nessa velha discussão. Há muito se sabe que alguns navegantes estiveram no litoral brasileiro pouco antes de Cabral. Sabe-se também que este não chegou ao Brasil por acaso. Essa convicção encontra apoio em várias fontes. Bastante citado, por exemplo, é o livro Esmeraldo de Situ Orbis, escrito entre 1505 e 1508, por Duarte Pacheco Pereira, membro da expedição de Cabral, que a certa altura menciona: "[...]temos sabido e visto como no ano de Nosso Senhor de 1498, vossa Alteza nos mandou descobrir a parte ocidental da grandeza do mar Oceano, onde é achada e navegada grande terra firme e com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela".

 

Reais motivos da vinda de Cabral


Muitos acreditam que seriam dois os reais motivos da vinda de Cabral em direção ao Novo Mundo;
1º) Estabelecer o domíno de Portugal na porção do novo mundo já assegurada em tordesilhas e fixar aqui bases de apoio para facilitar as viagens as Índias;
2º) Consolidar as relações comercias no Novo Mundo já começadas por Vasco da Gama.

 

Portugal comanda o comércio


Com a descoberta do caminho marítimo para as Índias, intensificou-se o comércio de especiarias. o aumento da oferta desses produtos levou à queda dos preços no mercado. À medida que mais pessoas podiam comprá-los, ampliavam-se as atividades comerciais na Europa.
A partir desse momento, a rota do Mediterrâneo entraria em decadência, provocando o enfraquecimento das cidades mercantes da Península Itálica.
Portugal alçou-se ao primeiro plano entre os Estados mais poderosos da Europa. Essa condição, todavia, duraria pouco tempo, pois logo a rota das Índias começou a ser disputada por outras potências européias. Portugal voltou-se então para a exploração das terras americanas.

 

Colombo chega à América


Embora os espanhóis já tivessem, no início do século XV, tomado posse das ilhas Canárias, no oceano Atlântico, a noroeste da África, sua expansão marítima e comercial só começou efetivamente em 1492, após a expulsão definitiva dos muçulmanos da Península Ibérica.
Ainda em 1492, uma expedição comandada por Cristóvão Colombo tomou posse, em nome dos reis espanhóis, de terras localizadas na região central da América.
Colombo tinha a intenção de atingir o Oriente navegando em direção ao Ocidente. Ao contrário do senso comum, defendia a idéia de que a terra era redonda, e não plana como a maior parte da população acreditava ser.
Navegando conforme seus planos, Colombo encontrou a atual Ilha de São Domingos, na América Central. Imaginou ter chegado às Índias. Por essa razão, chamou de índios os habitantes do lugar.
O feito de Colombo criou um problema para Portugal. Supõe-se que os portugueses já desconfiavam da existência de território a sudoeste do oceano Atlântico.
Para tentar solucionar a disputa entre os dois reinos ibéricos, foi feita uma série de acordos. Contudo, somente em 1494 celebrou-se um acordo definitivo: o Tratado de Tordesilhas. Nele ficava estabelecida uma divisão de territórios entre portugueses e espanhóis.

 

O Tratado de Tordesilhas


Para estabelecer os domínios no Atlântico foi necessária uma longa batalha diplomática entre Espanha e Portugal.
Pouco depois da volta de Cristóvão Colombo, o papa expediu, em maio de 1493, a Bula Inter Coetera, que reconhecida ao reino de Castela o domínio sobre todas as terras que se encontrassem a oeste de um meridiano localizado a 100 léguas a oeste das ilhas de Açores e Cabo Verde.
Portugal, sentindo-se prejudicado, não aceitou a bula papal e exigiu uma negociação direta. O resultado foi o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, em que os reinos ibéricos estabeleceram uma divisão do mundo.
Segundo o tratado, terras e mares encontrados ou por encontras (desde que não pertencentes a nenhum rei cristão) seriam divididos entre Espanha e Portugal. O meridiano que passa a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde foi tomado como linha divisória. As terras localizadas a leste pertenciam a Portugal. As restantes seriam da Espanha.
Para os portugueses, o tratado era altamente positivo, pois lhes assegurava a posse do litoral atlântico da África, região que já vinham explorando. A Espanha acabaria impondo seu domínio a grande parte do continente americano e sobre os povos que o habitavam. Com os metais preciosos encontrados no novo continente, tornar-se-ia a nação mais rica da Europa. Por isso na história espanhola o século XVI ficou conhecido como "o século de ouro".

 

Inglaterra, França e Holanda


Descontentes com a divisão do mundo entre Espanha e Portugal pelo Tratado de Tordesilhas, Inglaterra, França e Holanda desconheceram o acordo e procuraram atuar por diversos meios contra as colônias e os navios ibéricos. Um desses meios era a pirataria.
Mais tarde, iniciaram a conquista de áreas não colonizadas pelos espanhóis na América do Norte e nas Antilhas, e foram aos poucos tomando pela força terras já ocupadas pelos dois reinos ibéricos, além de diversas tentativas de retirar o Brasil do controle dos portugueses.

Navegações e mercado mundial


As Grandes Navegações deram ao comércio europeu um impulso extraordinário. Para se ter uma idéia desse crescimento, basta lembrar que, em sua viagem às Índias, Vasco da Gama trouxe de lá especiarias que renderam a Portugal um lucro de 6000%.
Além de colocar no mercado europeu quantidades inusitadas de mercadorias, o novo comércio estabeleceu um intercâmbio sem precedentes entre os diversos continentes. O mundo todo começava a ser unificado pelo comércio.
Essas mudanças operaram uma verdadeira revolução nas relações internacionais, nos hábitos de consumo, nas mentalidades, na organização das sociedades européias e não-européias. Além disso, consolidaram o poder absolutista dos reis e fizeram da burguesia o grande agente das transformações sociais. Esse processo ficaria conhecido mais tarde como Revolução Comercial.

 

REFERENCIAS



DIVALTE, Garcia Figueiredo. História. São Paulo: Ática, 2006.
AMADO, Janaína. FIGUEIREDO, Luiz C. A formação do império português. São Paulo: Atual, 1999.
COUTO, Jorge. A construção do Brasil. Lisboa, Cosmos: 1998.

COTRIM, Gilberto. História: Brasil e Geral. São Paulo: Saraiva, 2002.

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